segunda-feira, 13 de julho de 2015

Vontade

Eles tinham tudo pra dar certo. Menos coragem.
Eram diferentes pontos de vida, que se encontraram em ebulição, em uma fila de motivos pra não se estar lá.

Apostaram que a intensidade desaguaria e passaria como temporal. E num descuido, veio um sopro de amor. Daqueles que levantam a saia da moça no meio da rua. Que desacorçoam o soldado perante a invasão. Que realocam fluxos sanguíneos na vontade de ser um só.

O beijo virava susto enquanto caíam nas invenções da pele no coração.
Esbarrando em novos caminhos, desmembrando expectativas, simplificando a possibilidade de serem mais que encontro na deriva, de serem pedra virando areia na onda. Desseguiam o rumo, descegavam a ilusão, desencontravam rio e (a)mar.

Escondiam a imensidão de serem mais que dois na bolha que era viver pros outros, não pra si. Mas quando precisavam de alento, refugiavam-se nos aparentes choques de realidade que o amor dá quando o aceitamos. Chamavam de lembrança, mas era mais uma tentativa de evocar a mão do outro pra dentro de si, num ensaio de consertar seu coração.

As multidões que habitavam seus corpos gritavam "não" a cada ameaça de separação e tinham como problema motivos para paixão. A saudade sorrateiramente aparecia como uma boia na arrebentação das amenidades. Queriam segurar mais forte na ilusão, ensaboada pelas quebras e falhas de projeção.

Escorregavam e colocavam o coração pra dormir. Vez em quando voltava formigando, mas eles ignoravam o incômodo da falta e seguiam. No fundo queriam a vida, antes que a perdessem de vista.
Eles tinham tudo pra dar certo. Menos vontade.

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