domingo, 17 de novembro de 2013

Do amor

Se o amor pudesse ser algo, seria acontecimento.
E se até a vida desacontece, quem dirá o amor.

E por que precisaria de provas? E por que seria feio ser um clichê?
No final das contas é uma palavra, que se prova e se exaure em si mesma da boca pra fora.

Os medos, os enganos, os "talvez" não cabem dentro dessa palavra.
A tornam opaca, a transformam em mil outros sentimentos que não o amor.

Entre suas quatro letras caberia, por exemplo, a invenção.
São pequenos detalhes multiplicados em feições distorcidas pelo brilho de um desejo.

Aí a expressão não cabe no grito e o grito foge da vogal.
Se pudesse falar do amor, diria que ele cria portas.
Abri-las ou fechá-las são decisões pontuais em reticências.
Faz parte do círculo da vida, se ela se formasse geometricamente.

Nos enquantos e entretantos estamos abertos.
Entre e não se acomode.

sábado, 16 de novembro de 2013

Estamos vivos?

Somos gastos pelo mundo e isso é bom.
Dá trabalho, é dolorido e muitas vezes é tedioso, mas é isso que estamos fazendo.
Querendo ou não.

Quanto mais velha a sola do sapato, mais as rugas da alma aparecem.
E não é a velhice da carne é o desgaste de si.
Também não é o sapato físico, mas o que calça nossos sonhos.
É a intensidade de estar vivo com zero ou com sessenta e cinco anos.

Isso é lindo.
Enquanto o frio anestesia, o calor nos faz sentir vivos, por isso incomoda tanto.
Mover-se, ser movido, mover o outro gasta sol e energia, mesmo com graus negativos do lado fora.

Abrir a porta para a inconstância da vida e para o que mundo tem a nos oferecer é correr um risco inescapável.
Parece que vivemos achando que ter ego é coisa de artista.

Não é a idade que chega, mas as ideias que se mostram, que se apropriam da sua transformação.
Mais importante do que causar o brilho no olhar de alguém é permitir que alguém coloque algo diferente no seu.

Estamos vivos?
Não se poupe.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Dos desafios diários

Dos desafios diários, o de hoje será entender que a resposta nunca é uma só.

E isso é estranho, pois estamos acostumados ao sim ou ao não. Pode até ser um talvez, mas ele perde o significado por ser definição.

A unicidade é brega, mas como toda música do Fagner, merece respeito.

Assim como merecem aqueles que querem ser isso e aquilo, que deixam-se habitar pelo masculino e pelo feminino, pelo bem e pelo mal e por aqueles que se sujeitam aos riscos de, pelo menos, saberem o que não são. O sim e o não fazem parte de nós e devia ser pecado renegar um deles.

Dos desafios diários, o de hoje será entender que as respostas não vêm, é preciso estar disposto a enxergá-las.


domingo, 3 de novembro de 2013

Ficará

Enquanto tivermos um ao outro, tudo ficará bem.
Mas o que é ter? Possuir em seus braços?

Não.

Se tivermos a certeza de que fizemos o melhor e de que tomamos todas as decisões juntos, enquanto pudermos admirar e amar um ao outro sem precisar de motivo ou compromisso, tudo ficará bem.

Porque hoje aprendemos algo que não é lição ou verdade.
Algo que sempre seremos, teremos e buscaremos: o amor.
Em sua forma mais amorfa, em seu doce mais azedo e em sua paz mais angustiante.

É possível estar junto sem estar ao lado, então podemos amar sem convencionalmente estarmos de braços dados.
Que a única certeza seja a de que, se estivermos em paz com nós mesmos, tudo ficará bem.
E ficará.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Manifesto do nada

Hoje escrevo pelo nada.

Pelas pessoas que nada fazem quando algo deve ser feito.
Pelas pessoas que agem errado por não terem posição, por serem nada.

Por gente que se corrompe por nada.
Mas se é corruptível, é porque não vale nada mesmo.

Por aqueles momentos em que nada pode ser feito
e por aquelas palavras de efeito que não afetam.

Que o nada fique em seu lugar, pois aqui só tem espaço para quem é.
Seja assumidamente tudo o que quiser, mas não seja "nada".

Mas aí eu penso: o que sobre para o nada a não ser ele mesmo?
Você que nada é, nada fala, nada vê, bem-vindo ao eterno vazio que vazou de dentro de você e que vai se eternizar ao seu lado.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sala de espera

- Não sinta ao meu lado - ela falou.
- Quer dizer "sente"?
- Tanto faz, não sente e não sinta aqui.

Interpretou o que ouviu com tanta surpresa que nem fala cabia na incompreensão do momento. Afinal, do que falava?

- (Falo) Do seu amor. Da sua fé, igual a minha, praticamente inexistente. Da sua fúria, como a minha, mal direcionada. Do seu jeito e do seu gesto, como os meus, manifestações do que não é manifesto. Já falei do amor? Porque é nele que as palavras não prestam e é nele que me perco...

Ia responder, mas não coube um sopro de vogal... Ela continuou:

- Nem me olhe. Não troque seu brilho com o meu, sai faísca. Não jogue seu verso contra o meu, risada certa. Nem silencie a sua voz perto de mim, que irei me sentir completa.

E enquanto ela se refazia de toda essa profecia e confissão, coube uma fala:

- Tudo isso por causa de um lugar?
- Sim e não. Pois o seu lugar em mim, não é lugar de manifestação. Nele não nasce árvore, nem cabe prédio, é lugar de outras construções. Não sente perto de mim que minha alma agarra a sua. Não suspire e não sinta, que não é a hora nem a chance de ser.

Começara a entender, mas achava tudo aquilo invenção. Como poderia caber tanta coisa em um assento no sofá da sala de espera? Parecia ter lido sua mente e, ao mesmo tempo, não havia sentido em nada daquilo. Ela continuou:

- Poderia até ser uma questão de lugar, mas está mais para tempo, para modo e para conjugação. O "eu e você sim" não cabe dentro do meu "não". Pelo menos não agora.

Sem entender, mas entendendo, estranhando, mas agindo com naturalidade, se afastou dela e de sua simplicidade. Apesar dos pedidos e dos mandos, sentiu e sentou, mesmo longe, fora (dela).

Percebeu, então, quem era. A que não havia sido pedida, perdida ou encontrada. Alma gêmea à sua, que sabia o que dizer, sabia o que ser, mas que iria desafiá-lo a assumi-la e a tê-la sem dúvidas, conhecendo todos os riscos.

E ainda tem gente que diz que ela vem se você cuidar do jardim, mas se você se distrair, pode negá-la sem ao menos ter permitido que fossem, um para o outro, o que tinha que ser, o que havia de ser e o que sempre foi: a própria felicidade.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Imune

Olho ao redor e a falta de foco me acalma.
Não piso em palco, não quebro salto, não minto.

Parei de sentir e acabei escolhendo assim, quem diria.
O rei da imprecisão emocional e do descontrole oral, mais um papel.

Como corujas perdidas no horário de verão, que não enxergam, não revelam, não relevam.
Você e eu.

Deslocados;
Desbundados;
Desmundados;
Mas nunca desalmados. Aí que mora o perigo.

Me poupo do lado forte, mais uma safra de safras perdidas, mais uma morte singela e sofrida se aproxima.
E se a gente não amasse, não haveria dor que nos uniria.

E nada nos une.
Nada separa.
Imune?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Eufobia

Não, nem o grito mais agudo poderia extravasar todo o sangue que parece estar correndo ao contrário no peito. Parece que nada é capaz de trazer de volta o ritmo das batidas e dos batuques do centro da vida.

Era medo. Medo de estar errado, de estar certo, de descobrir que não é o que queria, muito menos o que imaginava. Medo de se perder, mas, acima de tudo, medo de se achar e de se decepcionar.

Tememos o agora, o fim, o ser, o estar, o caminho, o outro e, principalmente (talvez antes de todos os medos), nós mesmos.

A era dessa eufobia transborda toda e qualquer boa vontade e é refletida em espelhos tortos, em que não conseguimos nos ver com clareza com os olhos dos outros, quem dirá com os nossos.

Não, nem o mais gelado dos olhares é capaz de paralisar o caminho torto que estamos seguindo.
Não conseguimos assumir nossas culpas e, ao jogá-las nos outros, nos sentimos mais culpados ainda.

A eufobia pesa, é presente e impera na nossa retrógrada pós-modernidade.

Mesmo que pudéssemos nos pegar no colo, o que haveria para ensinar?
Quem virá nos diagnosticar?

Não, não quero ser o último a chorar.
Tenho medo de encontrar o fio da minha alma, se ficar para trás.

Eufórico eufóbico. Parece nome de palhaço, mas é a (des)graça de estar vivo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

( )

Ah me poupem das não bobagens.
Por favor, me poupem do medíocre, do que é dado como certo, da bagagem de mão.

Sequestrem-me da minha vida, que não é meu reflexo, é fruto de reflexão.
Tirem-me o ar que não acalma e o coração que aperta aos 23 não por amor, nem por adrenalina boa, mas pelo desconforto da rotina.

Poupem-me dos amanhãs e dos olhares que não atingem a alma.
Venham, salvem-me do "eu" que construí e dessa vida que não me permite sonhar sem ter vergonha, quem dirá viver.

Ei, venham logo!
Acordem todo mundo, porque vale a pena ir.
Tem alguém aí?

(                 )

Quebrou-se a casca do ovo.
(a)Frito.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Morte, medo e viva

Faz algum tempo que a morte tem estado em minha mente, criando contradições metafísicas entre o meu eu e o eu que habito. Vontade de conversar com gente que foi, pois hoje estou mais preparada para interpretar sua luz e seu saber.

E temo que isso se repita (e vai se repetir) com os mestres que ainda não tenho preparo pra conversar das coisas que ainda vou descobrir, saber e conhecer. Aí percebo que deixei de compartilhar o que eu não sei e perdi a oportunidade de aprender com quem mais admiro.

O meu medo não é morrer sem ter feito, dito, dado tudo o que podia, mas de viver meus dias economizando para um grande momento.

Cá entre nós, que momento é maior do que o agora?

Coloque em prática ou em pausa seus dias de preparação, de preocupação e de planejamento.
Pelo menos por um dia, garanta que poderia morrer menos preocupado com o que deixou de ser, de estar, de sentir, de compartilhar e viva.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O homem nos tempos da fibra

Olhou pra dentro e não tinha nenhum abismo.
Nenhum neandertal entrando em casulo e saindo Deleuze, Foucault, Abujamra ou Raul Seixas.

Nenhuma disputa entre o bem e o mal, nenhum animal, nem pedra preciosa.
Lá havia alguns sonhos introjetados pelo convívio social, algumas dúvidas existenciais iguaizinhas às dos filmes que gostava tanto de assistir e às dos coleguinhas com quem gostava de discutir (o que mudou o sentimento reconfortante de ter alguém concordando consigo).

Não tinha espelho, nem espantalho.
Nem uma larvinha ou um brotinho de feijão.

Ficou assustado e resolveu perguntar pro outro o que ele via dentro dele mesmo.
Fantasias inefáveis que ele tentava contar em palavras emprestadas.
Descobriu o nada.

E lá ele ficou, revelado, descoberto, desmembrado.

Não sabia se sentia alívio por não ser o único sem nada dentro de si ou desespero por fazer parte dessa nãosidão.

Então pensou: enquanto eu ensaiava esquecer quem eu era, meus erros, meus medos, acebei sendo alguém ninguém, coisa alguma, nada nenhum.

Não tinha jeito. Seguiu sua vida de fibra ótica: um pedaço de vidro que transmitia a luz, mas era incapaz de produzi-la.
Fechava as cortinas de dentro e fazia da alma um guarda-sol.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Paradogmas existenciais

É nas pequenas derrotas diárias que o homem moderno se fortalece.
Essa é a nova cultura.

Era da felicidade encapsulada e do amor virtual.
Do "detesto trabalhar", mas só falo disso.

E o looping etéreo?
Círculo vicioso de insegurança das últimas gerações, que julga rejeição e desinteresse o cansaço do outro.
Aliás, que outro?
Aquele que é tão, mas tão importante que precisa vir atrás de mim, disputando minha atenção para que eu me sinta importante e, nessa lógica(?) pós-moderna, amado.

São esses paradogmas existenciais que regem o nosso mundo.
E ainda me perguntam por que eu quero descer...

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

that's amore

Ah, que mania as gentes têm de ter medo do amor.
De ferir ou de criar compromisso.

E ainda o associam à mentira, ao óbvio, ao clichê, à precisão de provas.

Quê isso!

Amor não é compromisso.
Nem é verdade, pois não há prova.
O que há é o gosto, o gesto, o tremelique.

O amor é inóbvio.
E os clichês? Podem ficar para aqueles que não o veem de olhos fechados.

Se for alguma coisa, se for falável ou crível é um suspiro. Um olhar trocado ao meio dia, uma conversa inesperada cheia de alegria. Nada que possa ser provado, mas sentido e refletido em nossa pele, no arrepio que o seu sussurro causa em nossa alma.

O amor é eco do silêncio.
E é quem cria, não a criação.

sábado, 3 de agosto de 2013

Pena na calçada

Pena de pomba na calçada. Choquei-me.
Uma célula morta nunca causou tanto desconforto a alguém.
A dona partiu sem avisar, deixando esse quase sentimento abandonado em pura pluma.

De repente, incômodos avoam de dentro de mim e pousam no meu ombro.
Me obrigam a repensar os últimos minutos, dias, meses... Nem sei mais...
Faz tempo que não consigo contar o tempo direito...
Não importa.

Um dia ainda tiro o sobre do meu viver.
E deixo a pena cair de mim, como se eu fosse pomba levantando voo.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Avesso

Olhar dentro da caixa
Emitir o que não contém

Saber a verdade
Saber a mentira

Medir o tamanho do vazio
Ter medo da alegria
E fugir com coragem

Envelhecer
Ser jovem
Morrer enquanto vive

Viver é desvirar o avesso

Pra ver se o sentido muda com a figura
E muda
E não muda
E procura o original

Subir pra descer
Gritar pra pedir silêncio

A vida é o eco da razão
Procurando ajuda
É fugir da loucura na filosofia
E desencontrar(-se) diariamente.

A vida é a eterna descoberta do avesso.
A vida é avessa
A vida atravessa
E não é vida
É pura contradição cósmica.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

tradições

Não podia ir pra cama sem um copo de café. Pra ela, nem xícara, nem leite.
Era a rotina, presa em suas próprias contradições.
Mantinha seus eventos cotidianos sem despertar.
Pra ela, viver dormindo evitava que o cotidiano fosse real. 

Saía antes pra poder se atrasar.
E nas gavetas organizava tudo para que a bagunça tivesse lugar.
Gostava de ficar ao sol porque sentia frio. Corria estática, não estética.
Pra ela, nem maratona, nem manhã.

Às vezes o pior cansaço se dava por todas as coisas que não realizava. 
Todas as vontades que não têm lugar cansam.
O cansaço vinha diariamente para que ela tivesse tempo de sonhar.
E aí, no sonho, realizar era mais fácil do que abrir os olhos.

Pra ela, suas mãos não era suas.
Como quando sonhava que era ela, mas não era.

E não pense que é por preguiça que ela fica assim, sonoramente sonolenta.
Não era culpa do mundo, da direita ou da esquerda. Não havia culpa. 
Havia ela.

E ela era assim, uma tradição ensimesmada da contradição do todo.
Era minoria e por isso era todo mundo. Não chegava nem a ser ninguém.
Era nada. Pra ela, nada.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Komodo

De todos os pensamentos que me pegam em fase nenhuma, um prevalece:

A vida é incômodo.
Então, incomodo.

Se for desagrado, que seja.
Se for amor, melhor.

Não sou de me pegar no colo, mas vez em quando acaricio o ego.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Tempero

Hoje.

Um tempo em que o tempo não conta.
Em que ninguém conta o tempo.
Em que nada que importa é número de se contar.

No manifesto das mentes vazias, que acharam algo para completá-las.
No manifesto do que foi modificado no telefone wireless.
Na humanidade manifesta...

Um andar sem compasso em uma trilha sonora.
Um sonoro passo numa vida descompassada.
Uma tosse.

Amanhã.

Um ontem em tempo real nutre o dia.
O dia que nutre o amanhã irreal.
Ninguém vive nele e é lá que todos vivem.

Um suspiro.

Ontem.

Poucos lembram dos microtempos que ele nos deu de vida.
De vida que acontecia, mas só vivida para depois.
Prelúdio de amanhã, resquício perdido de hoje, em eterno destempero do tempo.

Uma vida.
Sempre depois. Sempre antes. Sempre desagora.

Ah... o agora...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma frase basta.

É perto dos idiotas que as pessoas revelam seu lado mais verdadeiro.




Uma frase basta para que um mau julgamento mude o olhar do outro e para que o idiota se torne você.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Narcisismo

Aquele momento em que você tem a impressão de estar desperdiçando mundo.

O dia em que você acorda querendo partir para uma realidade paralela e vai dormir querendo voltar àquele tempo em que a realidade era igual a essa, mas, nele, você se julgava feliz.

Felicidade distante... Dançante entre o ontem e o ano que vem.

Culpa ergométrica assumida pelo bem do outro, mas que se instala no centro do senso e vai corroendo tudo de dentro para fora. Yoga traiçoeira que fortalece o lado errado da alma.

A pior rejeição é aquela que vem de dentro. Está tão em seu lugar que a sentimos em todos, a criamos nos outros e ainda achamos que não somos culpados.

E você achando que o reflexo no espelho era a única contradição narcísica de hoje.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

pera!

tem gente que não nasce pra vida
nasce pra fora ou nasce pra dentro
tem gente que nasce
tem gente que nem

tem gente que fabrica o frio
em um ambiente fechado
só para fingir estar apaixonado embaixo de um cobertor

tem gente que esquece o frio
inventando história de um czar russo no meio do saara
encontrando na barra da existência uma desrazão de não ser

tem gente maiúscula
que não é nem maior, nem mais alguma coisa
fingindo ampliar os sentimentos pela quantidade de vogais

perdendo na exclamação o dom do suspiro
no adjetivo o calor do olhar
fingindo tão bem que nem o fingimento consegue existir

tem gente minúscula
que sonha em ser shiftada
mas nem imagina que não existe caracter normal

e eu?
nem caibo aqui, nem sobro espaço.
nem cá, nem só
nem né

pera!
ou pêra?
reformei

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Borboleta maquiada

Passei lápis nos olhos como se escrevesse uma história.
Entre o supercílio e o globo, um papel de pão com palavras perdidas.
Estranho desabafo estético, borrado e marcado.

Parece estranho pensar no antes e quem dirá no depois, se nem o agora digeri completamente.
Coração não quebra, mas bate mais devagar.
Quase para, para e volta.

E é no desespero das almas em conflto que me desencontro e mudo de lado.
Nos vales de almas desfeitas, a coragem pode ser amiga da inverdade.
Lucidez em plena sombra, clareza em meio ao breu.

Tentar planejar o intagível desfocamento de si é fracassar em seu ego.
Felicidade incompleta, tristeza inconstante.
Vai e vem de puro fluido na corrente de sangue do prazer.

Colori os lábios para emudecer meu canto,
que coloquei em um canto, distante de mim.
Perto demais da realidade, longe do sonho, longe da essência.

Colori os lábios como se costurasse as palavras entre a garganta e o estômago.
São borboletas aprisionadas e as asas são palavras entre o não e o mim.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Simulacro

De todos os simulacros da vida (in)existente, encontro-me em um realismo insaciável. Parece quase espectral a visão que tive hoje das coisas que (não) entendo.

Encontros com coisas minhas que também são do outro e, por isso, são ainda mais minhas.
Defeitos que tem efeitos quase trágicos em qualidades que não lidam com nada.

Parece que tem um quê de AlmodovarHitchcokTarantinesco no destempero da vida hoje. Algo que nem no tabuleiro de Gabriela eu poderia provar.

Tá certo que cabe às palavras o dom de exagerar, mas que sentir é exato?
Sentir é a arte de exacerbar coceiras internas em pensamentos desconexos.
E nem precisa ser artista pra saber cazuzear um momento.

Exatamente o que a gente não precisa vem nos momentos em que não sabemos nem por onde começar a lidar com o mundo. Mas o mundo não é nada, não tem nada a não ser que inventemos e acreditemos.
Não adianta só ver. Então se não consigo lidar com o mundo que criei, sou vítima da minha (nossa) própria invenção.

É o advento de si.mulacro.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sonho ou realidade

Há quem diga que os sonhos não valem nada se não foram realizados. Bobagem.
Há ainda os que bravam pelos cantos que todo mundo sonha igual, todos querem as mesmas coisas e que deveríamos nos conformar com a normalidade, pois é o que tem pra hoje.

Essa falsa Unidade. é meio que permanente e etérea ao mesmo tempo.
Pensamento de quem precisa ver para crer, ver para crer em si mesmo.

Ainda achamos que se a vida está ruim, podemos esperar uma compensação cósmica com algo muito bom.
Que as situações inexplicáveis devem fazer sentido para alguém em algum lugar.

É um egoísmo externo sem tamanho.
Tudo está nos outros, tudo está no resto, tudo está no tudo, mas nunca em nós.

No final das contas não são os mais racionais ou mais preparados que lidam com os reais problemas da vida de forma memorável. Nos limitamos ao ponto de nos surpreendemos com o que é raso, com o que é, desculpe o palavrão, normal.

Engraçado pensar em como tudo o que é construído ao nosso redor nos faz olhar para os lados, mantendo o nível da normalidade. Poucas são as construções que nos permitem olhar para cima e ver algo além do teto.
É a limitação arquitetônica do comum.

Eu tenho um sonho.
Não é igual, nem diferente, mas é meu sabe.

Eu não quero me surpreender com o normal, quero algo absurdamente bom na minha cabeça quando meu último pensamento passar por ela.
Afinal, o que é a realidade?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Cresça e...

Se eu conseguisse descrever a fase de agora, com certeza ela já teria passado.
Dessa vez a minha alma ri alto de minhas dúvidas, de minhas escolhas...
Tão alto que até acorda o outro lado do meu coração, que estava parado, átrio vazio de estranheza e coragem.

Hoje não quero fazer barulho e expressar a minha incompreensão, meu desengano.
Meu grito é de puro desabafo, não quero criticar, não quero resposta, quero ouvido.
O que eu poderia dizer se é a inconstância que predomina?

Como é difícil crescer e não deixar desaparecer o melhor de você.