quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ausência

Sentada em frente a uma tela iluminada, enrolada na toalha, o que sentia? Nada, não era nada.
Levantou, trocou-se, olhou-se no espelho e imaginou como seria seu rosto se fizesse uma plástica. Será que esse era o retoque que ela precisava? Não, não era nada.

Distraia seus pensamentos imaginando intenções de outros. Olhava com mais cuidado, pesquisava, racionalizava sua intuição desesperada e logo via que não era nada. Afinal, devia parar de procurar no outro o que queria ver em si mesma. Besteira, não era nada.

Barriga vazia, mesmo tendo comido agorinha. Precisava de mais alguma coisa para preencher aquilo... Abria a geladeira e, sob a luz que mostrava culpas e calorias, lutava consigo mesma e falhava, fechando a porta com as mãos abanando. Não, não era nada.

Rememorava aquele quase amor, as sensações, as imagens, o romance... Suspirava e logo lembrava: quase, pra ela, era igual a nada. Não era nada.

E de nadas e quase nadas continuava sua rotina. Sempre levantando a suspeita de que ela estava lá, mas a reduzia a nada, diminuía as vontades, sufocava as dúvidas, confinava as emoções e depois reclamava que se sentia vazia. Mas realmente não era nada, era ausência. Ouvia cada passo que dava, passos ocos, tamborilando cantos tribais (ou seriam triviais?): na-da, na-da, na-da.

2 comentários:

  1. Uau!
    De tão ausente (que me notei agora), fiquei sem palavras.
    Agradeço muito pelo belo texto que muito diz.

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