quarta-feira, 14 de novembro de 2012

(Con)Viver

Alguns cortes não fecham.
Ficam abertos para mudanças de forma e conteúdo.

Conviver é viver com e não viver por.
Levante voo para onde o seu vento for, não mude seu rumo por quem não lhe considera parte essencial de sua vida.

São muitas contas, muitas coisas, muitas pontas do laço da vida que não precisam se juntar.
Às vezes é melhor deixar uma ponta solta para trás do que lacrar acordos de um lado só.
Não coisifique, adjetive, afinal, a vida é sempre uma situação e não uma definição.

Engula seco, olhe fixamente e durma pouco, mas desvie do que não é pra ser seu.
O ressentimento é inflamável e o que não pode ser observado à distância exige pele.

Mate um dia por não e nasça um novo sol a cada sim.
O amor é negociável, mas o tempo não.
Deixe estar em você.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Zula.

Talvez a gente só ame mesmo, quando deixamos o melhor do outro mudar tudo em nós, por querermos e sabermos que mudar, dessa forma, é natural.

Mudar o cabelo,
a casa,
o jeito
e o vocabulário.

Nada melhor do que deixar as palavras de outros se tornarem nossas, sem denegação.
Um jacaré vira um cacaré
e as cores mudam, chegando o memelho e o zul.

Aí, na altura máxima, deixamos mudar nosso nome.
Zula.

A gente só vai saber (se é que é aprendível, tangível, racionalizável) amar, se deixar o outro reavivar, em nós, memórias que ainda vão ser construídas.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mar(é)

Um looping interno e eterno. Parece que é assim que estamos agora, eu e meus outros eus, que eu nem imagino quem sejam, mas que se mostram mais do que eu gostaria e contradizem o que eu digo sobre mim.

Sentimento de ser um siri em sua toca. Sabe, aqueles que ficam na praia, no subir e descer das marés, com um furinho sobre sua casa, mantendo-se vivo para poder sobreviver? Ou seria o contrário?
Parece pleonasmo, mas, sob o vem e vai das ondas, ele fica imerso, esperando as lágrimas da terra irem embora, para que possa se arriscar, sem respirar, a ir atrás do que o deixa sobreviver: alimento.
Algo capaz de nutri-lo para que possa, com calma, respirar novamente em sua toca.

Engraçada essa diferença entre viver e sobreviver. O siri parece vivenciar suas mais intensas experiências (que devem existir de uma maneira bem crustácea) dentro de sua toca. Abaixo de nossos pés, enquanto caminhamos na praia, vivenciando as nossas.
Inevitavelmente vem o momento em que ele precisa sair dessa existencialidade poética e marítima e partir para uma caçada substancial, atrás do alimento que o faz sobreviver.

Gostaria de estar mais para o siri, que aguarda a hora de sobreviver, do que para o humano que sobrevive esperando a hora de viver. Sobrevivência, no segundo caso, que não é substancial, mas existencial.
Parece que sigo sobrevivendo do que basta, esperando o grande momento de viver.

Talvez os que vivem uma sobrevida, tenham mais acesso à vida do que imaginemos.
Uma vida que acontece e depois culmina na sobrevivência, não o contrário. Uma vida em que puramente se existe e reflete e explora ao máximo a estupidez humana, observando-a, como homens invisíveis, os tais mosquitinhos que sempre dizemos querer ser.

E pensar que um siri pode saber mais do que é a vida, em seu sentido mais puro, do que qualquer outro dominante.
Não sei, parece que estou tempo demais embaixo d'água esperando a maré passar.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ponto e vírgula;

(… E parecia que aquele parêntese nunca ia se fechar.

Eram reticências e mais reticências ocupando o espaço de uma vida.

Às vezes surgiam também os pontos de interrogação, que davam um mareado na mesmice de continuar sempre em linha... Em linha com outro, em linha com Deus, em linha com as metas, mas será que em linha com si mesmo?

Já posso ver que a resposta está na pergunta: a alma não segue linhas.
Não segue sequer uma pontuação, onde tudo o que achamos definido com ponto final, ressurgia depois de um travessão. As vírgulas se enganavam também, misturando todos os sentidos enquanto se escrevia a vida.

Mas afinal, quando vamos fechar o parêntese?
E quando fechado, o que será que vai ser de todas as nossas explicações e dogmas, crenças e teorias, que fazemos questão de deixar implícitas?

Já teremos explicado tudo?
Será que somos poucas palavras ou só um ponto (vírgula, espaço, travessão) em um período extenso?

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

(Des)encontrando

Há tantas escolhas que nos separam de pessoas, de caminhos, de ideais...
Tantos nós que se desfazem em "eus" e "vocês"...
O resto (que fica) é coincidência ou lição do destino.

Há também os encontros da vida,
os começos e os recomeços de todos os mundos.
Atos que dissolvem qualquer dor e reverberam qualquer alegria.

Encontros programados por algo além de nosso entendimento,
desencontros que acontecem fora de nosso alcance.

As despedidas, parte vital dos encontros, são o que mais constrói nessas indas e vindas.
Aquelas que fazemos e, principalmente, as que deixamos de fazer.

São esses tais encontros que fazem nossa história, o que aconteceu no final deles, então, não importa tanto assim. O tempo limpa tudo e nunca seremos o que dissermos, só o que nos permitirmos.

Entrevidas, entremeios, entrefins, seguimos assim, incompletos e infinitos, sempre nos (des)encontrando.

(Des)encontros esses que são uma valsa indecifrável para mais de dois, em que o intangível dança com o que conduzimos dentro de nós.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A(deus)

(à Salvador José Troise, in memoriam)

Sabe quando você fica sem palavras?
Sabe aquele momento em que tudo fica parado, mesmo em movimento?
É estranho, eu sei, mas com certeza você já esteve nesse mesmo lugar sem encontrar ninguém nem nada que pudesse explicar esse momento.

Assim me sinto, mas nem imagino como ou se deveria explicar tudo isso.
No lugar onde estou encontro uma galeria de momentos de amor e percebo que não há despedida.
Mesmo que não haja Deus ou vida após a vida, as energias boas de pessoas excepcionais nos acompanham.
As lições, o aprendizado, o cheiro de tabaco no cachimbo e o apelido não podem ir embora assim, não vão embora de nenhuma forma.

Sei que não merece lágrimas, mas é um jeito do meu corpo expressar que estou entendendo o que está acontecendo, com a certeza de que de alguma forma a sua obra boa, seu carinho de pai e avô, permanecerão.

Enquanto isso, lembro demoradamente de cada coisa, objeto, paisagem e aprendizado que pude viver ao seu lado.

Alguns dizem que sou boa com as palavras, mas essa é a única forma que eu encontro de homenagear sua memória, na verdade, a minha memória de você.

A(deus).

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cicatriz do coração fraco

Era amor mesmo.
Por mais que não parecesse, mesmo no desencontro de tempos o amor acontece.
A demora da hora entre uma vida inteira e outra não vai cicatrizar feridas que devem estar lá, para que, assim, o amor ainda possa ficar na nossa pele.

Talvez não seja só desilusão, talvez seja mudez da intuição.
Às vezes é preciso sentir a ferida aberta para ainda deixar os caminhos do coração desimpedidos.

Cicatrizes podem ser bloqueios para o encontro entre almas.
Boa cicatrização deixa o coração fraco, opera, então, o amor descaso, só de caso, bem raso.

E como se fortalecer sem jeito?
Rasgar de novo no peito, o formato do desejo que temos de ser feliz.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ser coisa nenhuma.

Quem diria que o amor adolescente, infantil, é o mais inteligente?

Ele simplesmente é o que nasceu pra ser: incondicional, inquestionável, impossível, projetado, entre tantos outros "in", "im" e "ados".

 É, enfim, amor puro, sem medo, sem experiências anteriores pesando no seu caminhar, sem corcundas e feridas, sem o excesso do passado arrastando nosso calcanhar.

Exatamente por ser adolescente, não chega ao fim, é interrompido por algum motivo bem maluco ou bem racional, comum na impulsividade do novo. Então, fica na memória e na saudade do peito.

Sempre queremos acreditar que a compreensão do amor e a possibilidade dele ser verdadeiro vêm com a maturidade, mas, na verdade, quanto mais aprendemos, mais difícil fica de sentir o irracional. Quanto mais andamos, mais impossível é amar o que não precisamos, pois a única coisa que levamos pela vida e depois dela, é o que não conseguimos deixar pra trás: nossas vivências, nossas loucuras e nossos amores, enfim, a bagagem mais pesada do mundo.

Precisamos amar nossos filhos, amigos, parentes, entre outros entes, mas o amor gratuito, aquele que olhou, bateu e nem precisou ter voltado, não tem sentido pra gente.

Os adultos procuram sentido em tudo, faz parte da filosofia de ser qualquer coisa, o que finda em uma vida sem sentidos e sem ser coisa nenhuma.

Afinal, a pergunta nem é "o que é o amor?", mas sim "como podemos voltar a amar?".

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Balão


Mover-se é difícil.

Mudar as tangentes que limitam nossos caminhos tem um tom de impossível.
Mas aí que nos deram o pensamento...
E deixaram que fizéssemos reforma, ao menos, nos traços ideais.

E é nele que me liberto,
No pensamento aberto e cheio de preceitos,
que meu ego não deixa ir muito longe,
mas que a alma faz voar que nem balão.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Vem?


É que já deixamos de amar tantas vezes...
Por medo, receio, preconceito velado.
Por acharmos não sermos merecedores de algum tipo de alegria.

No momento da escolha não notamos que precisamos aprender a amar.
Talvez amar a viver.

Viver consiste em quem, não quando, nem onde, nem como.

Generalizamos.
Mas aonde vamos é além de quem somos.

Se não nos entregarmos à vida, a quem mais iremos nos entregar?
E todos os personagens que percorrem as vielas de cada corpo, merecem se econtrar, felizes ao lado de alguém.

Vem?

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fugitivo

É que às vezes temos que fugir de nós.
Tentar ser igual a qualquer outra pessoa por termos consciência de que somos muito do que não queríamos ser.
Denegamos tudo e revelamos mais do que gostaríamos entre uma palavra e meia.

Às vezes somos coisa, só uso, sem fruto.
Às vezes somos raros, diferentes de nós.

Também podemos ser belos, por conhecermos o papel que encanta nossos espectadores.

Quem diz que não se conhece, mente os defeitos.
Quem diz que não se conhece está pensando na lista de desagrados,
que se fosse coisa boa saberíamos de cor, de forma até "camoniana".

Há de vir mais enganos e recomeços, perdas de memórias no esplendor de nossa identidade eterna.

Só podemos mudar se identificamos, aceitamos e amamos, mesmo sem gostar, cada parte má, nefasta e sem amor que possuímos. E mesmo assim, a mudança pode ser só uma passadinha de pano nas sujeiras do (in)consciente.

É que é tão mais fácil escapar de tudo isso.
Viver como clandestinos do eu, ilegais em nosso próprio corpo.
Fugitivos da utopia de sermos quem queremos ser.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O absurdo

Observava o movimento a seu redor: era retangular.
Estranho como não sentia mais como antes.

Era imprevista no ciclo de alterações mundanas sofridas por almas em construção, uma surpresa.
As sensações não vinham mais como antes e as palavras haviam endurecido.

Será que era o deserto?
Desencarnado na exata forma de não ser?

Era então folha que não voava com o vento, aquela que fica grudada no chão.
Era flor que não queria ser colhida, amor que não queria ser amado, tristeza que não queria ter fim.
Contradições tão clichês que nem chegavam a ser opostas.

Faziam parte do mundo pós qualquer coisa e era comum ser coisa nenhuma.
E se tivesse tempo?

Algo extra do que nossa vida efêmera...
Será que haveriam segundos para admirar as repostas que existem ao nosso redor?

Na garganta os nós do passado com o presente com o jamais possível, se mistificavam em saudade.
E a voz volta a incomodar, talvez devesse criar palavras para mudar ou emudecer o real absurdo.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Gato dentro d'água

Talvez nessa vida (não) tenhamos que nos acostumar a ser gato dentro d'água.

Ser um gato imerso faz parte do que pensamos ser a vida ideal, mas pra quem está lá, consciente,  ensopado de contradições à sua essência, é insuportavelmente letal.

Um mal súbito, viver em desencontro a nós mesmos.
Observamos traços em quem nos rodeia que nos ferem, que nos incomodam como ser humano vivente e pensante.
E vem o medo da igualdade, pois o que somos além de um reescrito do meio em que estamos?

Nossa voz revela, só, o que nenhuma mentira encantada pode velar.
Só quem espera sabe receber.
O que representa algo que vale a pena ser vivido, só será presenteado aos que sabem receber. Não que outros não ganharão e vencerão, mas sua vitória não terá o gosto de um sonho real, será só uma insossa experiência qualquer.

É impossível fazer algo repleto de significado todos os dias, mas que pelo menos o cotidiano não seja um sacrilégio ao que nos é sagrado.
O que somos e o que construímos, o que acreditamos e fazemos será o único patrimônio perene para a vida de outros, para quem não conhecemos, para nossos filhos.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Projeção

Não, não é cinema.

Não é engraçado o jeito como as coisas são.
Nem tudo é seriedade, ou tem que ser levado a sério, mas nem tudo é riso.

Todos nós fazemos piadas de mau gosto, julgamentos e dizemos palavras encharcadas de veneno.
Mas nunca esperamos que nossos amigos, as pessoas que escolhemos para ser família, sejam passivos se ouvirem algo de nós.

Eu criaria um escudo em volta de quem eu amo, impenetrável para quem participa da minha vida, mas não tem carinho pelos mesmos seres que eu.
Se eu não conseguisse mudar seus pensamentos, não me tornaria íntimo, nem tão pouco amigo de alguém que quer o mal (mesmo que superficial) da minha família.

Mas aí eu recaio naquele velho ditado:
Não espere que os outros façam por você o que você faria com eles.

Não se projete, se proteja.
Não deixe que te tragam para baixo, se eleve.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Guarda


Refletia, fora do espelho, se o vendaval passaria a ser tempestade e o susto um falso alarme de que uma gota estrondosa cairia em um sentimento.

Mas a estabilidade era improvável, maquiada como um grande amor e disfarçada de mudança. A esperança cegava as inconstâncias e colocava uma barreira entre o amanhã e o depois.

Vai saber que verdades esperavam no corredor ao lado, pra pousar, que nem borboleta, na nossa razão. Às vezes é melhor esperar mesmo, sem ser de ninguém a alta guarda.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ma(i)s?

E hoje eu senti.
Falta.

só que não são os pedaços de mim, não são as lembranças (nem as boas, nem as ruins)
é algo invisível que toma conta, como a impotência.

nos apropriamos de tudo, mas não conseguimos perder nada.
desviamos e damos voltas para não...

clamava que caísse um raio de resoluções sobre sua sentença,

mas isso não é sobre nós, é sobre todo o resto.
pula daqui! soltemos as mãos.

se você se perder, não preocupa.
o que chamamos de encontro, nem sempre é a soma.