sábado, 4 de julho de 2015

Inverno (parte 3)

Um encontro casual para os que passavam apressados por aquela rua, naquela hora, naquela manhã. Se alguém observasse com atenção veria dois corações saindo do peito, querendo se encontrar. De blusa amarela, chegava cheio de esperança e palpitações: ele (...ela ou a outra parte de um amor que era o caso que viria). Distraída, tropeçando nos próprios passos para o que o caminho lhe mostrasse aonde ir, a admiradora de árvores se sentia pronta para atravessar os rumos além do amor.

Poderiam ser de filos diferentes, semelhantes em suas divergências. Na primeira troca de palavras, na superficialidade, pareciam não ter nada em comum. Já aviso: não era um amor previsível, televisionável.
Mas eles não estavam presos a detalhes, estavam prontos para reescrever fábulas, queriam conhecer o limite.

O que tinham era carne, mas mais que corpo. Também era sonho, com requintes de Stephen King. Era medo, que possibilitava o nascimento da coragem. Era extraordinário, mas irritantemente simples - como a inevitabilidade do cessar da dor, de amar o que se espera que esteja lá e se desiludir, sobrevivendo às brevidades do amor. Era querer estar só, mas precisar acordar junto todos os dias. Era piada e lágrima... Era real.

Ela. Uma parte. Parecia perdida entre as folhagens das árvores que despetalavam o outono.
Ele. Outra parte. Peito aberto a favor do vento que liderava o caminho para o inverno.
Eram duas porções de um todo muito maior que dois. E se dispunham a acolher, como terra que espera a semente, o que viesse para compô-los nesse infinito que era viver e escolher não viver só.

Eles nem lembram quem falou oi primeiro, só lembram da sensação de perceber que o outro existia... Fotografado nos pelos dos braços, arrepiados até hoje. Quase me convidavam a ver, mas eu estava de passagem. Esperava reencontrá-los quando chegasse novamente. Que essa estação os preparasse para as alegrias da intimidade no verão, para as criações da mente e do coração na primavera, para as perdas que vêm no outono, mas que encontrassem abrigo no "nós" que decidiram criar quando eu chegasse no frio da obviedade do inverno.

Por eles, formigas e cigarras esqueceram suas diferenças e dividiram o que tinham no inverno. Se tinham, se deram. E entre tantas caminhadas que ainda dariam, a do primeiro encontro ficou marcada nas rugas de suas peles. Para os dois, parecia que estavam, finalmente, indo pra casa.

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