terça-feira, 25 de maio de 2010

Amanheceu

eu me sinto igual.
igual a todas as vezes que mudei
igual a todos os amores que deixei
a mesma metamorfose há milhões de anos.

será que ainda aprendo?
que tudo é de papel e as palavras só ficam aonde a gente deixa
que tudo é mais céu do que a terra pode suportar
que tudo é mais mar do que margem
mais som que imagem
mais do que menos

amanheceu e vou perder pra conquistar
o porquê da solidão vem roubar a noite
depois virão outros sonhos
e a resposta de que eles são feitos

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Azuis

Um dia eu escrevi uma música que contava a história de um amor.
Dizia que amores são sempre possíveis, nas janelas invisíveis do céu entre nós.

E pensar que tudo começou porque conversamos tantas madrugadas, explicando nossas linhas.
Linhas do teto, da mão, linhas de raciocínio e expressão, sem rimar.
Desvendamos lágrimas, dúvidas e sonhos.
Uma tarde realizada em uma experiência tão intensa de alma, que foi para os dois.

Enquanto isso a linha do tempo cruzou a nossa e a vida foi acontecendo.
As linhas foram dando nós, tanto que narrei um lado teu no meu sonho e deu medo.
Restou uma canção descoberta em mim pelo outro, que virou a sua previsão.
Combinamos que seria assim.

Outra tarde aconteceu e depois do dia, veio uma noite.
Mas foi o destino outro...
Em uma experiência tão boa que só uma foto poderia contar.

A música que fiz nunca foi.
Como havia me dito uma vez: "você é intensa e intenção".
Também confesso que aconteceu assim o final:
Minutos de céu, que serão exatamente minutos de céu e fim.

"- A vida só se dá pra quem se deu
 - Continuo com aquele mar sobre a minha cabeça
 - E eu com ele dentro de mim"

Fomos azuis, desde o clarinho até o blues.

domingo, 23 de maio de 2010

Sim

Não.

Tão sonora palavra, anasalada.
Pequena aniquiladora de ideias,
é o mal do bem ou o bem do mal, fatal.
O fim da vontade, do plano, da dúvida.

Não... tão cruel, tão simples e bruto.
Só precisamos abrir a boca uma vez em sua sílaba uníssona para colocar ponto.

Mas do não vem o sim.
Aquele que ilumina ou confirma o terrível,
mas ainda acredito que o sim vem do sol.
Só precisamos abrir a boca uma vez em sua sílaba uníssona para começar um ponto.

Essa diferença que pode ser a mesma coisa...
O eu e o sim, o não e você.
O sim e o não
entre eu e você.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Afluentes

Difícil quando vemos outra pessoa viver nossos planos, mas é que às vezes nossos projetos são do mundo.
Nós somos autores de muitas histórias que nunca viveremos.
Aí vamos rever nosso caminho, podar as flores do jardim e encarar que temos que plantar tudo novamente.
Talvez cuidar de nós mesmos de forma diferente, quem sabe?

Cartões postais existem em todos os lugares, assim como sonhos em quaisquer pessoas e planos em todos nós.
Tantos rios vão partir de uma mesma fonte, correr por caminhos que nem se imagina, mas esta nunca sairá de seu lugar.

Que venha o destino de cada um e que vá para sua trilha quem não pertencer à minha.

"Bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
 Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho"
- Vander Lee

terça-feira, 11 de maio de 2010

Em frente.

Siga em frente.
Deixe para trás todos os nós, todas as lágrimas, não se esforce tanto por algo que pode não existir, por alguém que pode nem desconfiar, por quem prefere ir por aí. Esqueça os traumas de infância, ame só quem te ama e ame a si mesmo acima de todas as coisas.

Siga, enfrente.
Diga tudo o que te incomoda, viva as emoções ao extremo, fique doente de amor, faça várias coisas que vão te causar arrependimento. Traia uma amizade, um companheiro, traia a si mesmo. Não durma, minta e corte seus cabelos com alguém desconhecido. Se entregue a alguém desconhecido. Acredite que possa viver a história do seu filme favorito e não peça desculpas. Se envolva com um amigo, seja a outra e pense nos erros todos os dias, remoendo qualquer pequena chance de ter dito não na hora certa. Destrua e reconstrua a si mesmo sempre que possível.


Ainda não consegui entender por quê eu não sigo, só enfrento.
Será que eu consigo separar as sílabas?
Aonde é a frente?

Para seguir em frente, enfrente.
Pelo menos eu espero que seja isso.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

palavras e raízes

Não tenho conseguido expressar as ideias mais ligadas a mim.
No entendimento da estrada e na tradução infiel do que se passa, tenho ficado à deriva.

Li, em algum lugar, que temos a natureza de lutar contra a transformação dos pés em raízes. E acho que agora comecei a desvendar o porquê algumas pessoas não ficam. Vai ver elas seguem essa natureza que eu me recusava a perceber...

Que não pertencemos eu já sabia, mas que não ficamos... isso é novo.
Então tenho que aparar minhas raízes, principalmente as mais profundas, bem no fundinho da terra, aquelas que trazem a tal da "seiva bruta".

Mas eu acho que a raiz de uma árvore, não tira sua liberdade.
Podemos sentir o vento e imaginar voos altos, mesmo fincados ao chão.

É o amor que nos flutua.

E já que não pertencemos, não nos prendemos, não estagnamos, é só uma escolha entre um e outros.
Uma escolha entre sonhar de olhos abertos e de olhos fechados.
Uma escolha que pode ser desescolhida.

Mesmo assim, vou tentar aparar as ideias e me desvencilhar das raízes.

E não é que as palavras são raízes?