domingo, 22 de maio de 2016

Abandono

Eu te espero voltar.
Como a mãe que espera não só o pródigo, como o cão que espera não só o mestre e como o filho que pode ser tanto aquele que ainda não sabe que a mãe não o abandonará, como aquele que ainda não conseguiu entender que ela o abandonou.

Ah, se fosse mais um caso de coração partido por um parceiro romântico, um pouco de tempo e brigadeiro talvez resolveria. Ou se fosse um caso de desordem familiar, talvez alguns anos de terapia ajudariam. Mas não estamos falando do clichê.

O abandono de que falo não fui eu que sofri, mas também o sinto. E além dos animais, das crianças e dos idosos, passivos desse horrendo verbo transitivo, que apesar de pedir complemento, escolhe deixá-lo para lá, existe também o abandonado ativo: que abandona a si. Assisti-lo dói e faz a gente querer acolher, assim como o animal, a criança, o idoso. Mas quando falamos de um abandono de si, aquele que abandona e o que é abandonado repousam no mesmo corpo e é só esse corpo que pode readmitir o encontro, o acolhimento.

Quando você resolver voltar, quando desistir de desistir de si, estarei aqui, além desse tempo em que você se abandonou e saiu por aí. Continuo aqui.
Eu ainda espero poder te ver voltar e peço que volte logo, porque eu sei que você se sente falta. Eu também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário