quarta-feira, 15 de julho de 2015

(Des)ocupação

E quando é que a vontade tinha se transformado na nova coragem?
Ter vontade era ter coragem. Eu achava que era o medo que desencadeava a coragem, mas na verdade é a vontade. A vontade de ver até onde podemos ir, até onde podemos nos impor, até onde o outro vai deixar que a gente se sobrepuje. A vontade de ver até onde a dor do outro dói, até onde o amor cura, até onde o imperdoável pode chegar.

Você vem querendo me mostrar que nada aconteceu. Mais uma vez tentar provar que o louco era eu. Sutilmente me dominar com uma menção de afeto envolto em espinhos que só dedo espetado sabe reconhecer.
Eu estive lá, sabe? Eu estive naquele lugar em que deixei você me colocar. No fundo da gaveta de suas inseguranças, na esquina do bairro vendendo amor por migalha de pão, no saco de lixo procurando espelho.

Eu peguei na sua mão e fomos nos afogar. Em piras sem cura, em culpas sem motivo. Eu tinha medo da sua mão, dela cansar de atravessar a minha alma e ir de encontro à carne. E mesmo assim eu fiz dela âncora. Nunca chegamos tão longe com ninguém, tão fundo no porém de conviver com alguém.

Na tentativa de ficarem puros, os corações cometem os piores erros, pois a pureza é o adjetivo mais cruel que possa querer sucumbir alguém. Essa mania da gente querer ser deus, deu nisso.

A nossa separação foi desocupar o lugar em que fomos parar juntos, sós. Dentro do buraco em que nos enfiamos, de costas um pro outro. Cavando novos túneis, mais pra baixo ou pra cima, não sei.
Me (des)ocupar de você não foi fácil. Tive que deixar pele e osso pra trás. Resignificar meu nome, relembrar meu eu.

(Des)culpado e (des)ocupado tenho a vontade da coragem e a lembrança do medo para me fazer seguir.

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