segunda-feira, 22 de junho de 2015

Guarda-chuva

Queria um guarda-chuva transparente pra te ver chegar como chuva inesperada. Aquelas que vêm no outono, sabe? Então, você. Folha amarelando, flor despetalando, vento mudando o sentido das árvores...

Essas meias-estações dão a impressão de que algo vai obrigatoriamente acontecer quando a estação inteira chegar. De que outras metades irão se somar a essa nossa incompletude existencial. De que meias-intenções vão evoluir para vontades. Achamos que o vazio é sazonal, mas logo vem mais um ciclo pra reorganizar nossas faltas.

E tão repentinamente quanto o outono se transformou em inverno, veio o sentimento mais rebuliçante de todos. Amar parecia ser tocado por algo que não podia ser sentido. Como se uma mão invisível segurasse meu coração e o ajudasse a bater no ritmo.

As meias-estações viram estações inteiras e nem por isso somam-se partes, raras vezes multiplicam. Que nem eu e você.

Ficarei, eu sei, em desarmonia rítmica quando o inverno acabar, mas logo na primavera outras formas de estar inteira florescerão. Sem meia-estação ou meia-intenção, só eu e as minhas outras metades, germinando em mim.

Um comentário:

  1. Que bel@.
    Sinto como se estivesse numa agradável tarde de um chuvisco caloroso que refresca, tem cheiro de chuva e sem compromissos para mais tarde. ;)

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