segunda-feira, 18 de abril de 2016

Jaula

O que podemos fazer um ao outro sempre me encantou.
A mão no rosto para conforto, o gesto da criança fazendo carinho, o abraço tímido de duas pessoas que se descobrem par, o perdão entre pais e filhos, o sim.
O preparo de uma refeição para a partilha, o choro solidário, a parceria na hora de lutar e até o incentivo de um desconhecido que ouve verdadeiramente sua história e dedica toda a energia de seu coração para desejar que você seja feliz, sem vínculos.

Porém, o que mais me surpreende é quanto podemos nos desligar desse laço de afeto humano para fazer algo só por nós mesmos. E vamos em um egoísmo tão cego que, depois de derrubarmos todos ao nosso redor, só resta nosso corpo, que, no fim, também precisa cair. Chegamos a precisar vencer a nós mesmos. E nem notamos que somos o inimigo, desde o início.

Assusta-me o quanto ainda reverbera uma suposta superioridade sobre os outros, sobre os animais, sobre a natureza. O quanto emerge em alguns um sentimento de competição e de "mais saber" que supera qualquer tentativa de amar e respeitar o outro. É nessas horas que suspeito que o eu é maior e mais forte que o amor.

Seja em câmaras de tortura ou de deputados. Em amores nascidos ou abortados.
No dia a dia, na falta de empatia. No considerar o diferente invisível, em marginalizar uma vida que, assim como a sua, é vida.

Cada vez me sinto mais colada e ao mesmo tempo distante de tudo isso. É como estar solto dentro de uma jaula, que nós mesmos trancamos e jogamos a chave longe.

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