quinta-feira, 14 de abril de 2016

Estranho

Estranho como nos tornamos estranhos. Eu e você.
Do lugar em que eu te via, sentado do outro lado da mesa, você agora se apaga.
E, na imagem desse momento em minha memória, onde a minha mão segura a sua, começo a sentir um vazio: sua mão perde matéria enquanto você desaparece do meu afeto.
Do lugar de onde você sorria e em que meu sorriso, em sincronia e sintonia com o seu, se eternizava em um momento de ternura, mistura-se a partida e o desapontamento do fim.

Estranho como nos tornamos estranhos. Eu e eu.
Na injeção letal do tempo na vida, me sinto o êmbolo entre o líquido da juventude e o nada aéreo comprimido em ideias plásticas do que não temos mais, mas ainda buscamos, pressionamos.
Como o êmbolo, fico em meio ao presente e futuro, juventude e passado, num entre-lugar sem lugar. Sinto a pressão da mão que aplica a injeção na vida e que se faz na minha vontade, em quem eu sou e, logo, não posso mais ser ou vir-a-ser.

Estranho como somos estranhos e como isso é estranhamente normal.

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