quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sala de espera

- Não sinta ao meu lado - ela falou.
- Quer dizer "sente"?
- Tanto faz, não sente e não sinta aqui.

Interpretou o que ouviu com tanta surpresa que nem fala cabia na incompreensão do momento. Afinal, do que falava?

- (Falo) Do seu amor. Da sua fé, igual a minha, praticamente inexistente. Da sua fúria, como a minha, mal direcionada. Do seu jeito e do seu gesto, como os meus, manifestações do que não é manifesto. Já falei do amor? Porque é nele que as palavras não prestam e é nele que me perco...

Ia responder, mas não coube um sopro de vogal... Ela continuou:

- Nem me olhe. Não troque seu brilho com o meu, sai faísca. Não jogue seu verso contra o meu, risada certa. Nem silencie a sua voz perto de mim, que irei me sentir completa.

E enquanto ela se refazia de toda essa profecia e confissão, coube uma fala:

- Tudo isso por causa de um lugar?
- Sim e não. Pois o seu lugar em mim, não é lugar de manifestação. Nele não nasce árvore, nem cabe prédio, é lugar de outras construções. Não sente perto de mim que minha alma agarra a sua. Não suspire e não sinta, que não é a hora nem a chance de ser.

Começara a entender, mas achava tudo aquilo invenção. Como poderia caber tanta coisa em um assento no sofá da sala de espera? Parecia ter lido sua mente e, ao mesmo tempo, não havia sentido em nada daquilo. Ela continuou:

- Poderia até ser uma questão de lugar, mas está mais para tempo, para modo e para conjugação. O "eu e você sim" não cabe dentro do meu "não". Pelo menos não agora.

Sem entender, mas entendendo, estranhando, mas agindo com naturalidade, se afastou dela e de sua simplicidade. Apesar dos pedidos e dos mandos, sentiu e sentou, mesmo longe, fora (dela).

Percebeu, então, quem era. A que não havia sido pedida, perdida ou encontrada. Alma gêmea à sua, que sabia o que dizer, sabia o que ser, mas que iria desafiá-lo a assumi-la e a tê-la sem dúvidas, conhecendo todos os riscos.

E ainda tem gente que diz que ela vem se você cuidar do jardim, mas se você se distrair, pode negá-la sem ao menos ter permitido que fossem, um para o outro, o que tinha que ser, o que havia de ser e o que sempre foi: a própria felicidade.

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