segunda-feira, 2 de maio de 2016

Deixe

Deixe o cabelo desgrenhar, a barba crescer, as noites passarem mal dormidas.
Não se depile. Deixe suas células e seus pelos sem cortes, sem aparas.
Cresça inteiro de novo.

Tente se reconhecer.
Não sinta fome, perca a ideia que tinha de quem você era.
Perca horas olhando pro teto. Dê a si o direito de não ser produtivo. Só seja qualquer coisa semiviva.

Atinja o lado baixo de si. Reconheça que está ali e respire.
Espere passar. Lute com tudo na sua cabeça que diz que não dá mais ou que quer voltar atrás.
Dê tempo para o tempo que não quer fluir.

Finalmente durma. E acorde.
Abra os olhos, mas cuidado com a claridade.

A selva que antes o ameaçava com predadores e plantas venenosas, aos poucos se abre em uma clareira. Ela teve o espaço de ser e agora vai ter espaço de abrir outros ciclos.

A intensa dor que sentia e impedia de pensar em qualquer coisa que não ela, vai anestesiando.
Ela pôde ser sentida em toda a sua intensidade e, aos poucos, perde sua função, sua pulsão.

Veja onde esteve, onde está e onde quer tentar.
Vá. Deixe seu cabelo, sua barba, seu pelo, seus medos, como preocupação para tempos de recolhimento. Esse não é um deles. Não mais.

Vá e deixe. Se deixe. Ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário