terça-feira, 25 de outubro de 2016

Areia e pedra

Na areia branca, alguém. Olhos fechados. Procuro alguma fresta entre seus cílios para ver se acho a porta de entrada. Nada.

No cimento, me racho em cânions entre o que tenho, o que faço e o que sou.
Insisto, que nem goteira em piso seco, em quebrar concreto pra fazer terra infértil virar flor, sentir amor, ser mais que cinza.
Achei que a aridez estava fora, mas a vida é uma casa dos espelhos que, mesmo distorcidos, só podem oferecer reflexos.

Na pólis pred(i)ada, alguém. Olhos nas mãos. Procuro algum desvio no olhar fixo para ver se consigo furar a bolha. Nada.

Ao redor, o que acontece dói. Nos perguntamos se há saída para tanto apuro, pra tanta gana de estar certo ao invés de fazer menos errado... Mas o sentimento que ainda existe, já enuncia seu fim.

No meio, não sobra coração na produção mecanizada. 
As batidas são rebatidas pela rapidez imputada pelo raciocínio lógico.
Não há lugar pra ansiedade no caos, é lá que ela é toda.

O presente flutua no infinito e o desamparo de viver deixa o agora pra depois.

A falta de tempo é medo.
A ausência da falta não é um não-estar, mas um já-estar acostumado a ela.

Nas esferas de um planeta raso, tentamos ser sólidos.
Mas até a areia, pedra desfeita, memora que um dia dissipou tudo que achou que era.



Nenhum comentário:

Postar um comentário