quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Refém

Refém do mar que habita meus olhos. Que foge das barreiras construídas com pedras e vidro.
Que escapa entre os dedos e me leva nas correntezas dos sentimentos que não conheço.

Refém das minhas ideias e das mechas do cabelo que não controlo. Dos desejos que não quero ter, mas me têm.

Refém dos programas de TV que me dizem qual é o comportamento mais seguro.
E dessa mania de querer segurança, sem entender que violência é a reação humana ao que nos condicionamos a partir do mundo.

Ainda procuramos nos signos astrológicos justificativas para os traços insuportáveis do outro. Somos reféns de projeções e expectativas.

Refém da necessidade de ser olhado, da necessidade de ser necessário.
Das interpretações de nossos horários, compromissos e prioridades.

E se tem vezes em que trocamos horas do dia por horas de sono e horas de sono por momentos de clareza, somos reféns da regra do horário.
Então, permitir-se estar em paz é um desafio que compete com o relógio.

É preciso humildade para aceitar o amor, quando o encontramos sem estar procurando-o. Mas será que a essência humana deixa de procurá-lo?
Não sei. Somos reféns das modularizações e das regras de relacionamento.

Somos reféns do que não aceitamos, do que não tratamos, do que não alcançamos.
Mas o maior cativeiro do mundo é a nossa cabeça.
Somos, em primeiro lugar, nossos próprios reféns, encarcerados em adequação social, emocional, existencial.

Somos reféns do limite num território sem fronteiras.
Deslimite-se.


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