segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Náufrago

Ele. Abriu os olhos em terra desconhecida. Tudo estava tão claro que chegou a ficar cego por frações de segundo. O que era aquele deserto todo? Aquelas nuvens de areia pareciam desencobrir encostas não planejadas - acontecidas.

Sem abrigo nem espelho, tentava olhar em frente para ver o caminho, mas sabia que aquela direção era só acontecimento, não fim. Tropeçava a cada ideia que tecia enquanto tentava despertar naquela paisagem que parecia definida, mas que ele não conseguia por contorno.

Ele. Que mesmo tendo o conhecimento de cinco vidas e a experiência de três não havia vivido nenhuma. Sentiu-se mareado. Talvez o ambiente fosse convidativo para essa sensação, mas não havia motivo. Motivo. Palavra que supostamente devia trazer sentido, mas naquele momento era só três vogais e seis letras.

Era inevitável que em algum momento se deparasse com seu reflexo. E quando aconteceu, aproximou-se de sua imagem para ver com olhos céticos: o que havia ali? Como se observasse algo novo, viu em seus olhos, enquanto passava a mão em seu rosto, raiva e medo daquele território. Seu corpo. Conseguia ver as não vontades todas que sentia e frustrava-se por não conseguir ver o que queria. Náufrago em seu consciente, lidando com os silêncios que não podiam mais ser encobertos por outros sons, ainda ouvia ecos de pensamentos, mas sabia que a hora de lidar com o que não estava lá fora chegaria.

Ser era pairar em águas claras e meio sem sal naquelas manhãs. Náufrago em si, ele emergia. Bom dia.

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