domingo, 2 de janeiro de 2011

Era uma vez...

Era uma vez um porquinho e três lobos (se são maus ou não, fica a seu critério).

O porquinho estava em sua casa, lendo um livro quando o primeiro lobo bateu em sua porta e perguntou:
- Porquinho, posso entrar? Aqui fora está tão frio...
O porquinho, bom como era, sentiu pena do lobo e o convidou para entrar.
O lobo se acomodou na cadeira preferida do porquinho, pegou seu livro e começou a ler.
Como o porquinho nunca tinha recebido nenhuma visita, resolveu deixar o lobo fazer o que quisesse e se acomodou em outro canto. As horas foram passando, os dias foram passando e a liberdade do lobo encolhia todos os desejos do porquinho.
O lobo, mal acostumado, nem percebia o quanto incomodava e machucava o porquinho até o momento que o porquinho resolveu fazer e sonhar como desejava. O lobo incomodadíssimo com a mudança, nem argumentou, foi embora sem mais nem menos. No começo como que abstêmio de seu visitante, o porquinho se sentiu culpado, mas logo percebeu que só estava respeitando seu espaço, afinal não há nada de errado nisso, não é mesmo?

Passado um tempo, devido às movimentações que acontecem de encontros e freqüências, um outro lobo apareceu. Dessa vez, o lobo convidou o porquinho para sair de sua casa. Surpreendido, o porquinho foi como se fosse a primeira vez que veria o mar.
O lobo mostrou seu mundo, explicou como gostava das coisas e pediu que o porquinho ficasse. O porquinho deslumbrado se sentiu honrado com o convite e ficou, adaptando-se aos gostos do lobo. Ele nem percebeu que estava abandonando a casinha que tinha construído e a estrutura das coisas como gostaria que existissem.
Com o passar do tempo, porque as coisas são assim, o porquinho percebeu que não havia necessidade em deixar de lado o que ele era por um lobo com manias estranhas, afinal não há nada de errado em mater sua essência, não é mesmo?
Resolveu então que iria embora para que pudesse se reencontrar. O lobo gritou e falou que as coisas tinham que ser do jeito dele e o porquinho percebeu que as coisas tem que ser como são, não precisam seguir desejos nem movimentos.

O porquinho voltou par sua casa cansado.
O caminho foi tortuoso, mas percebeu que sua casa estava aumentando. Primeiro com o espaço que ele percebeu importante depois dos exageros do primeiro lobo, segundo por ter reparado na importância de manter o lado de fora em seu lugar. Pintou os novos muros com palavras de defesa e evitou novos tijolos.

De súbito apareceu um lobo diferente, que conversou com o porquinho através da porta, nem dentro, nem fora. O porquinho achou impressionante a liberdade que este lobo estava dando a ele e ficou totalmente arrebatado. Manteve as coisas como estavam, totalmente satisfeito e feliz como nunca havia se sentido, até que o lobo resolveu entrar.
Entrou e fez uma bagunça, quebrou coisas irremidiáveis e o porquinho o trancou para fora. O lobo vendo que o porquinho havia fechado todas as entradas, soprou, soprou, soprou e derrubou as estruturas que o porquinho tinha construído. Acreditando que não tinha escolha, o porquinho permitiu que o lobo ficasse mais um tempo. Este que queria manter seus privilégios, construiu muros de ilusão e aprisionou muito bem o porquinho em sua própria vontade.


Em um dia nublado o porquinho disse:
- Vá embora.
O lobo, esperto como era, disse:
- Embora da onde se tudo o que você tem agora, fui em que construí?
Sem demora o porquinho disse:
- Sabe lobo, eu descobri que não são os muros que construímos ao nosso redor que fazem a nossa fortaleza, mas sim o que construímos dentro da gente. Com o primeiro lobo que bateu a minha porta eu aprendi que não é errado respeitarmos o que somos e nossos limites, expulsando o que não deve nos pertencer. Com o segundo lobo, que me levou para fora de minha fortaleza, eu aprendi que não importa quem peça que mudemos, nada é mais importante do que a nossa verdade e a nossa essência.
- Mas quando você decidiu me mandar embora? - indignou-se o lobo
O porquinho, assustado com sua própria serenidade, falou:
- Muito obrigado por ter me ensinado que não importa quantas vezes nossos muros e defesas sejam derrubados, nossa alma, nossa integridade e força jamais cederão... é só ficarmos atentos aos nossos sinais e intuições. Acabei de perceber, então, que quem deve abandonar algo sou eu. Quem precisa das mudanças, sou eu. Quem deseja respeitar-se, sou eu. Então, querido lobo, obrigada por me ajudar a perceber que devemos ser a mudança que queremos ver, se estamos mal com algo somos nós que temos que abandonar esse algo e não tentá-lo fazer nos abandonar.

O porquinho foi embora feliz com sua descoberta: o amor é para ser partilhado e a dor curada por nós mesmos. Ninguém virá nos salvar nem arrumar nossas vidas. Que sejamos os primeiros a nos oferecer o que queremos receber do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário