segunda-feira, 24 de abril de 2017

A porta

Porta fechada.
Finalmente chegara em casa. E se apoiava contra a porta por alguns segundos, antes de continuar o dia. Era um daqueles estranhos momentos em que parece que paramos o mundo para podermos seguir rodando pela vida.

Aquele pânico, aquela obsessão, aquele mar de sal que escorria de seus olhos, se preparava para a última estreia. Para a última apresentação solo no chão da sala.

Lembrar-se do que eram juntos e aceitar o que são separadamente, agora, resgatava-a. Via que não poderia dar todos os seus quereres para alguém que não reconhecia a despretensão ou o amor gratuito e que fazia do coração um lugar de tortura emocional.

Por que quereria, por que seria, por que se colocaria ali?
Querer aquilo era ser aquilo. E estar lá, mesmo que em negação em um canto esquecido, atestava sua submissão. Mas não mais.

Revisitou a sede de seu (ím)par. E repetiu em sua mente pela enésima vez os piores e melhores flashes, intercalados para que todos tivessem força igual. Mas, na disputa de braços, as melhores memórias admitiram derrota.
Foram-se, uma a uma, sem despedida, sem olhar pra trás.
Era uma sessão de descarrego sem monoteísmo, puramente egocêntrica.

Esvaziou o lado desalumiado e o fundo do peito. Relembrou seu nome e quem era.
Até o ponto em que o outro parou de fazer sentido. E o vazio que tomou o lugar da dor propiciou um novo início.
Porta aberta.

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