quarta-feira, 28 de julho de 2010

E lá vem mais uma estação.

Já reparou que no metrô não conseguimos olhar pra fora?
Através da janela só vemos borrões e é incômoda a sensação de não ter como se distrair...
Se olhamos para as pessoas, nos encaram de volta como se tivéssemos cometido um crime, ar paulistano talvez. Se olhamos de relance, percebemos nossas estranhezas no outro.
A cada estação quando vemos gente e paisagem vem uma lembrança, trazida no bolso de alguém, como se fosse de uma vida passada, aquela que enterramos e que hoje faz parte de nós.

É uma experiência tão incômoda que balançamos os pés, mexemos no celular, mudamos a música que estamos ouvindo ou abrimos um livro.
Em última instância, fechamos os olhos.
Por incrível que pareça, ao fecharmos os olhos fugimos de nós mesmos.
Mas a alfinetada nas vidas passadas, traz aquela cena mais dolorida.
Ao abrir os olhos é como se presenciássemos tudo de novo.

Ao mesmo tempo que queremos pensar em qualquer outra coisa, essa sensação traz a impressão de estarmos em par. Um par com o passado, um par com uma dor, com um antigo amor... talvez em par com Deus, quem sabe?

Vivemos tão concentrados em como estamos sós, que nem conseguimos mais distinguir o que nos acompanha.

E lá vem mais uma estação.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Preguiça de amar.

Você não vai perceber que me ama, não vai se desfazer de nada e nem mudar por mim.
Não vai mudar seu status nem ver que está tudo mais do que bem ao meu lado.

Exatamente porque se você não se deu conta quase que de imediato, não irá se dar depois.
Acontece também que eu não quero mais provar nada e a paciência diminui na mesma velocidade que os amores vão mudando.

Acaba que eu não vou me esforçar para você ver, exatamente porque você já deveria ter visto.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Amanheceu

eu me sinto igual.
igual a todas as vezes que mudei
igual a todos os amores que deixei
a mesma metamorfose há milhões de anos.

será que ainda aprendo?
que tudo é de papel e as palavras só ficam aonde a gente deixa
que tudo é mais céu do que a terra pode suportar
que tudo é mais mar do que margem
mais som que imagem
mais do que menos

amanheceu e vou perder pra conquistar
o porquê da solidão vem roubar a noite
depois virão outros sonhos
e a resposta de que eles são feitos

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Azuis

Um dia eu escrevi uma música que contava a história de um amor.
Dizia que amores são sempre possíveis, nas janelas invisíveis do céu entre nós.

E pensar que tudo começou porque conversamos tantas madrugadas, explicando nossas linhas.
Linhas do teto, da mão, linhas de raciocínio e expressão, sem rimar.
Desvendamos lágrimas, dúvidas e sonhos.
Uma tarde realizada em uma experiência tão intensa de alma, que foi para os dois.

Enquanto isso a linha do tempo cruzou a nossa e a vida foi acontecendo.
As linhas foram dando nós, tanto que narrei um lado teu no meu sonho e deu medo.
Restou uma canção descoberta em mim pelo outro, que virou a sua previsão.
Combinamos que seria assim.

Outra tarde aconteceu e depois do dia, veio uma noite.
Mas foi o destino outro...
Em uma experiência tão boa que só uma foto poderia contar.

A música que fiz nunca foi.
Como havia me dito uma vez: "você é intensa e intenção".
Também confesso que aconteceu assim o final:
Minutos de céu, que serão exatamente minutos de céu e fim.

"- A vida só se dá pra quem se deu
 - Continuo com aquele mar sobre a minha cabeça
 - E eu com ele dentro de mim"

Fomos azuis, desde o clarinho até o blues.