E quando é que a vontade tinha se transformado na nova coragem?
Ter vontade era ter coragem. Eu achava que era o medo que desencadeava a coragem, mas na verdade é a vontade. A vontade de ver até onde podemos ir, até onde podemos nos impor, até onde o outro vai deixar que a gente se sobrepuje. A vontade de ver até onde a dor do outro dói, até onde o amor cura, até onde o imperdoável pode chegar.
Você vem querendo me mostrar que nada aconteceu. Mais uma vez tentar provar que o louco era eu. Sutilmente me dominar com uma menção de afeto envolto em espinhos que só dedo espetado sabe reconhecer.
Eu estive lá, sabe? Eu estive naquele lugar em que deixei você me colocar. No fundo da gaveta de suas inseguranças, na esquina do bairro vendendo amor por migalha de pão, no saco de lixo procurando espelho.
Eu peguei na sua mão e fomos nos afogar. Em piras sem cura, em culpas sem motivo. Eu tinha medo da sua mão, dela cansar de atravessar a minha alma e ir de encontro à carne. E mesmo assim eu fiz dela âncora. Nunca chegamos tão longe com ninguém, tão fundo no porém de conviver com alguém.
Na tentativa de ficarem puros, os corações cometem os piores erros, pois a pureza é o adjetivo mais cruel que possa querer sucumbir alguém. Essa mania da gente querer ser deus, deu nisso.
A nossa separação foi desocupar o lugar em que fomos parar juntos, sós. Dentro do buraco em que nos enfiamos, de costas um pro outro. Cavando novos túneis, mais pra baixo ou pra cima, não sei.
Me (des)ocupar de você não foi fácil. Tive que deixar pele e osso pra trás. Resignificar meu nome, relembrar meu eu.
(Des)culpado e (des)ocupado tenho a vontade da coragem e a lembrança do medo para me fazer seguir.
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quarta-feira, 15 de julho de 2015
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Vontade
Eles tinham tudo pra dar certo. Menos coragem.
Eram diferentes pontos de vida, que se encontraram em ebulição, em uma fila de motivos pra não se estar lá.
Apostaram que a intensidade desaguaria e passaria como temporal. E num descuido, veio um sopro de amor. Daqueles que levantam a saia da moça no meio da rua. Que desacorçoam o soldado perante a invasão. Que realocam fluxos sanguíneos na vontade de ser um só.
O beijo virava susto enquanto caíam nas invenções da pele no coração.
Esbarrando em novos caminhos, desmembrando expectativas, simplificando a possibilidade de serem mais que encontro na deriva, de serem pedra virando areia na onda. Desseguiam o rumo, descegavam a ilusão, desencontravam rio e (a)mar.
Escondiam a imensidão de serem mais que dois na bolha que era viver pros outros, não pra si. Mas quando precisavam de alento, refugiavam-se nos aparentes choques de realidade que o amor dá quando o aceitamos. Chamavam de lembrança, mas era mais uma tentativa de evocar a mão do outro pra dentro de si, num ensaio de consertar seu coração.
As multidões que habitavam seus corpos gritavam "não" a cada ameaça de separação e tinham como problema motivos para paixão. A saudade sorrateiramente aparecia como uma boia na arrebentação das amenidades. Queriam segurar mais forte na ilusão, ensaboada pelas quebras e falhas de projeção.
Escorregavam e colocavam o coração pra dormir. Vez em quando voltava formigando, mas eles ignoravam o incômodo da falta e seguiam. No fundo queriam a vida, antes que a perdessem de vista.
Eles tinham tudo pra dar certo. Menos vontade.
Eram diferentes pontos de vida, que se encontraram em ebulição, em uma fila de motivos pra não se estar lá.
Apostaram que a intensidade desaguaria e passaria como temporal. E num descuido, veio um sopro de amor. Daqueles que levantam a saia da moça no meio da rua. Que desacorçoam o soldado perante a invasão. Que realocam fluxos sanguíneos na vontade de ser um só.
O beijo virava susto enquanto caíam nas invenções da pele no coração.
Esbarrando em novos caminhos, desmembrando expectativas, simplificando a possibilidade de serem mais que encontro na deriva, de serem pedra virando areia na onda. Desseguiam o rumo, descegavam a ilusão, desencontravam rio e (a)mar.
Escondiam a imensidão de serem mais que dois na bolha que era viver pros outros, não pra si. Mas quando precisavam de alento, refugiavam-se nos aparentes choques de realidade que o amor dá quando o aceitamos. Chamavam de lembrança, mas era mais uma tentativa de evocar a mão do outro pra dentro de si, num ensaio de consertar seu coração.
As multidões que habitavam seus corpos gritavam "não" a cada ameaça de separação e tinham como problema motivos para paixão. A saudade sorrateiramente aparecia como uma boia na arrebentação das amenidades. Queriam segurar mais forte na ilusão, ensaboada pelas quebras e falhas de projeção.
Escorregavam e colocavam o coração pra dormir. Vez em quando voltava formigando, mas eles ignoravam o incômodo da falta e seguiam. No fundo queriam a vida, antes que a perdessem de vista.
Eles tinham tudo pra dar certo. Menos vontade.
domingo, 7 de junho de 2015
Procura-se
Procura-se alma que queira amar descomplicadamente.
Que não fique quantificando ou poetizando o amor, permitindo que ele seja o tanto de poesia que transpirar.
Que se entregue, sem medo de se machucar, mas com gana de ver até onde o coração pode ir.
Que não fique preso às formas do corpo, mas às formas com que podemos usá-lo para amar.
Não quero uma história que tenha tudo para dar certo, quero uma história que se dê. Completamente.
Que não se importe com qual é o rumo da minha vida, mas com como eu estou me sentindo agora.
Que não queira contar de seus carimbos no passaporte, mas quantas vezes passou pelo mesmo caminho e, ainda assim, viu beleza e se apaixonou.
Que goste de jazz, mas que também dance Karol Conká.
Além de tudo isso, alguém que queira ficar, mesmo que vá embora.
Afinal, são as vontades que movem o mundo.
Que não fique quantificando ou poetizando o amor, permitindo que ele seja o tanto de poesia que transpirar.
Que se entregue, sem medo de se machucar, mas com gana de ver até onde o coração pode ir.
Que não fique preso às formas do corpo, mas às formas com que podemos usá-lo para amar.
Não quero uma história que tenha tudo para dar certo, quero uma história que se dê. Completamente.
Que não se importe com qual é o rumo da minha vida, mas com como eu estou me sentindo agora.
Que não queira contar de seus carimbos no passaporte, mas quantas vezes passou pelo mesmo caminho e, ainda assim, viu beleza e se apaixonou.
Que goste de jazz, mas que também dance Karol Conká.
Além de tudo isso, alguém que queira ficar, mesmo que vá embora.
Afinal, são as vontades que movem o mundo.
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terça-feira, 19 de maio de 2015
Opaca
Embaraçada, trazia anseios infalíveis. Tinha acordado seca.
Densa, mas permeável.
Era delírio e execução, pagamento penal de algo natural. Vulcão.
Canalizado dentro da pele, aflorando em arrepio.
Ferida aberta.
Eram intensas as incisivas que projetava nas suas palavras.
Em nossas conversas monológicas, era apaixonante.
Potencialmente covarde e infinitamente poderosa.
Quando cicatrizava conhecia fim, pelo menos onde morava.
Opaca. Vaporosamente etérea.
Vontade.
Densa, mas permeável.
Era delírio e execução, pagamento penal de algo natural. Vulcão.
Canalizado dentro da pele, aflorando em arrepio.
Ferida aberta.
Eram intensas as incisivas que projetava nas suas palavras.
Em nossas conversas monológicas, era apaixonante.
Potencialmente covarde e infinitamente poderosa.
Quando cicatrizava conhecia fim, pelo menos onde morava.
Opaca. Vaporosamente etérea.
Vontade.
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