Eles tinham tudo pra dar certo. Menos coragem.
Eram diferentes pontos de vida, que se encontraram em ebulição, em uma fila de motivos pra não se estar lá.
Apostaram que a intensidade desaguaria e passaria como temporal. E num descuido, veio um sopro de amor. Daqueles que levantam a saia da moça no meio da rua. Que desacorçoam o soldado perante a invasão. Que realocam fluxos sanguíneos na vontade de ser um só.
O beijo virava susto enquanto caíam nas invenções da pele no coração.
Esbarrando em novos caminhos, desmembrando expectativas, simplificando a possibilidade de serem mais que encontro na deriva, de serem pedra virando areia na onda. Desseguiam o rumo, descegavam a ilusão, desencontravam rio e (a)mar.
Escondiam a imensidão de serem mais que dois na bolha que era viver pros outros, não pra si. Mas quando precisavam de alento, refugiavam-se nos aparentes choques de realidade que o amor dá quando o aceitamos. Chamavam de lembrança, mas era mais uma tentativa de evocar a mão do outro pra dentro de si, num ensaio de consertar seu coração.
As multidões que habitavam seus corpos gritavam "não" a cada ameaça de separação e tinham como problema motivos para paixão. A saudade sorrateiramente aparecia como uma boia na arrebentação das amenidades. Queriam segurar mais forte na ilusão, ensaboada pelas quebras e falhas de projeção.
Escorregavam e colocavam o coração pra dormir. Vez em quando voltava formigando, mas eles ignoravam o incômodo da falta e seguiam. No fundo queriam a vida, antes que a perdessem de vista.
Eles tinham tudo pra dar certo. Menos vontade.
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