Sal. Boca seca. Saía do meio do mar, resgatada.
Tinha ido fundo demais, despressurizando a razão.
Lembrou que, enquanto descia, não se afogava, mas sorria. Olhando para a solidão azul e clara que se afastava enquanto percorria o caminho ao abissal em velocidade máxima, com o peso de seus fardos, amarrados aos pés, ajudando a descer.
Nos últimos momentos de consciência, refletiram as memórias que não conseguia mais alcançar. Da vida fora do mar, onde a alegria era úmida, mas mais seca que molhada.
Estava encharcada por dentro. Àquela altura, era mais sal do que água. Apagou. Mas alguém a puxou.
Voltou como se estivesse fora do corpo, via pelos olhos de outro alguém a tentativa de reanimá-la. .
Cuspiu água e viu, quem a resgatava, era ela mesma vestida de alegria.
Ainda havia duas dela.
Havia naufragado, mas o corpo abriga muitas moradas.
Enquanto retornava a si, viu a outra dela buscando mais uma, outra das duas e revivendo-a.
Olhou em direção ao mar e viu outros corpos se preparando para a descida. Não era hora de sepultar as dores ou transferir culpas.
Correu em direção à água e tirou outra de si de lá. Deixando os fardos a que se havia prendido afundarem. Aos poucos, foram trazendo uma a outra de volta à vida.
Dessalgando as postas da vivência, salvava-se.
Ela (quase) se foi… Como no dito pseudo-chinês antigo:
ResponderExcluirAcabar
E renovar
:)
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