Um encontro casual para os que passavam apressados por aquela rua, naquela hora, naquela manhã. Se alguém observasse com atenção veria dois corações saindo do peito, querendo se encontrar. De blusa amarela, chegava cheio de esperança e palpitações: ele (...ela ou a outra parte de um amor que era o caso que viria). Distraída, tropeçando nos próprios passos para o que o caminho lhe mostrasse aonde ir, a admiradora de árvores se sentia pronta para atravessar os rumos além do amor.
Poderiam ser de filos diferentes, semelhantes em suas divergências. Na primeira troca de palavras, na superficialidade, pareciam não ter nada em comum. Já aviso: não era um amor previsível, televisionável.
Mas eles não estavam presos a detalhes, estavam prontos para reescrever fábulas, queriam conhecer o limite.
O que tinham era carne, mas mais que corpo. Também era sonho, com requintes de Stephen King. Era medo, que possibilitava o nascimento da coragem. Era extraordinário, mas irritantemente simples - como a inevitabilidade do cessar da dor, de amar o que se espera que esteja lá e se desiludir, sobrevivendo às brevidades do amor. Era querer estar só, mas precisar acordar junto todos os dias. Era piada e lágrima... Era real.
Ela. Uma parte. Parecia perdida entre as folhagens das árvores que despetalavam o outono.
Ele. Outra parte. Peito aberto a favor do vento que liderava o caminho para o inverno.
Eram duas porções de um todo muito maior que dois. E se dispunham a acolher, como terra que espera a semente, o que viesse para compô-los nesse infinito que era viver e escolher não viver só.
Eles nem lembram quem falou oi primeiro, só lembram da sensação de perceber que o outro existia... Fotografado nos pelos dos braços, arrepiados até hoje. Quase me convidavam a ver, mas eu estava de passagem. Esperava reencontrá-los quando chegasse novamente. Que essa estação os preparasse para as alegrias da intimidade no verão, para as criações da mente e do coração na primavera, para as perdas que vêm no outono, mas que encontrassem abrigo no "nós" que decidiram criar quando eu chegasse no frio da obviedade do inverno.
Por eles, formigas e cigarras esqueceram suas diferenças e dividiram o que tinham no inverno. Se tinham, se deram. E entre tantas caminhadas que ainda dariam, a do primeiro encontro ficou marcada nas rugas de suas peles. Para os dois, parecia que estavam, finalmente, indo pra casa.
Mostrando postagens com marcador cigarra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cigarra. Mostrar todas as postagens
sábado, 4 de julho de 2015
domingo, 28 de junho de 2015
Cigarra (parte 2)
Saí de casa correndo, descabelada, colocando o sapato na rua.
Não tinha nenhum compromisso importante, era mais um ritual. Todas as manhãs caminhava até a livraria na rua debaixo da minha casa e pontualmente sonhava às 9h da manhã.
Cheguei, sentei, pedi um café.
Há alguns meses eu tinha esse estranho hábito de ir até lá e sentar sozinha, esperando que algo de maravilhoso acontecesse.
O café chegou, sem açúcar, do jeito que eu gostava. Enquanto o tomava, olhava para a porta, apreensiva. Era como se tivesse um trato com os universos paralelos para que aquela imponente porta de madeira maciça fosse o portal do amor da minha vida. Toda vez que lembrava disso, ria sozinha da minha imaginação.
Acabei meu café e deixei esses e outros pensamentos utópicos ao lado da xícara para que continuassem no dia seguinte. Será que a vida ainda reservava algo estranhamente maravilhoso para nós? Ah, que besteira.
Saí da livraria, caminhava descompromissada de volta para casa, pensando nos afazeres do dia.
Olhei para minha árvore favorita, com folhas amarelas, que já mostravam sinal de que o outono chegava ao fim.
Tropecei numa pedrinha que chamou minha atenção para o caminho. E foi aí que o vi.
Disfarcei meu rubor, mas ele me olhou. Parecia que tinha me visto bem antes de eu notar sua presença, bem antes, até, de nos encontrarmos. Era como se eu tivesse virado vidraça. Como se as batidas do meu coração fossem as cigarras que habitavam aquela árvore, cantando todas juntas, desacorçoando meus passos.
Fiquei paralisada, não sei dizer bem o porquê.
Percebi ele se aproximar e senti dentro de mim algo novo.
Muito mais que o amor.
(Continua - terceira parte: Inverno - http://giuliagambassi.blogspot.com.br/2015/07/inverno-parte-3.html)
Não tinha nenhum compromisso importante, era mais um ritual. Todas as manhãs caminhava até a livraria na rua debaixo da minha casa e pontualmente sonhava às 9h da manhã.
Cheguei, sentei, pedi um café.
Há alguns meses eu tinha esse estranho hábito de ir até lá e sentar sozinha, esperando que algo de maravilhoso acontecesse.
O café chegou, sem açúcar, do jeito que eu gostava. Enquanto o tomava, olhava para a porta, apreensiva. Era como se tivesse um trato com os universos paralelos para que aquela imponente porta de madeira maciça fosse o portal do amor da minha vida. Toda vez que lembrava disso, ria sozinha da minha imaginação.
Acabei meu café e deixei esses e outros pensamentos utópicos ao lado da xícara para que continuassem no dia seguinte. Será que a vida ainda reservava algo estranhamente maravilhoso para nós? Ah, que besteira.
Saí da livraria, caminhava descompromissada de volta para casa, pensando nos afazeres do dia.
Olhei para minha árvore favorita, com folhas amarelas, que já mostravam sinal de que o outono chegava ao fim.
Tropecei numa pedrinha que chamou minha atenção para o caminho. E foi aí que o vi.
Disfarcei meu rubor, mas ele me olhou. Parecia que tinha me visto bem antes de eu notar sua presença, bem antes, até, de nos encontrarmos. Era como se eu tivesse virado vidraça. Como se as batidas do meu coração fossem as cigarras que habitavam aquela árvore, cantando todas juntas, desacorçoando meus passos.
Fiquei paralisada, não sei dizer bem o porquê.
Percebi ele se aproximar e senti dentro de mim algo novo.
Muito mais que o amor.
(Continua - terceira parte: Inverno - http://giuliagambassi.blogspot.com.br/2015/07/inverno-parte-3.html)
Assinar:
Postagens (Atom)