Nenhum neandertal entrando em casulo e saindo Deleuze, Foucault, Abujamra ou Raul Seixas.
Nenhuma disputa entre o bem e o mal, nenhum animal, nem pedra preciosa.
Lá havia alguns sonhos introjetados pelo convívio social, algumas dúvidas existenciais iguaizinhas às dos filmes que gostava tanto de assistir e às dos coleguinhas com quem gostava de discutir (o que mudou o sentimento reconfortante de ter alguém concordando consigo).
Não tinha espelho, nem espantalho.
Nem uma larvinha ou um brotinho de feijão.
Ficou assustado e resolveu perguntar pro outro o que ele via dentro dele mesmo.
Fantasias inefáveis que ele tentava contar em palavras emprestadas.
Descobriu o nada.
E lá ele ficou, revelado, descoberto, desmembrado.
Não sabia se sentia alívio por não ser o único sem nada dentro de si ou desespero por fazer parte dessa nãosidão.
Então pensou: enquanto eu ensaiava esquecer quem eu era, meus erros, meus medos, acebei sendo alguém ninguém, coisa alguma, nada nenhum.
Não tinha jeito. Seguiu sua vida de fibra ótica: um pedaço de vidro que transmitia a luz, mas era incapaz de produzi-la.
Fechava as cortinas de dentro e fazia da alma um guarda-sol.
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