segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Náufrago

Ele. Abriu os olhos em terra desconhecida. Tudo estava tão claro que chegou a ficar cego por frações de segundo. O que era aquele deserto todo? Aquelas nuvens de areia pareciam desencobrir encostas não planejadas - acontecidas.

Sem abrigo nem espelho, tentava olhar em frente para ver o caminho, mas sabia que aquela direção era só acontecimento, não fim. Tropeçava a cada ideia que tecia enquanto tentava despertar naquela paisagem que parecia definida, mas que ele não conseguia por contorno.

Ele. Que mesmo tendo o conhecimento de cinco vidas e a experiência de três não havia vivido nenhuma. Sentiu-se mareado. Talvez o ambiente fosse convidativo para essa sensação, mas não havia motivo. Motivo. Palavra que supostamente devia trazer sentido, mas naquele momento era só três vogais e seis letras.

Era inevitável que em algum momento se deparasse com seu reflexo. E quando aconteceu, aproximou-se de sua imagem para ver com olhos céticos: o que havia ali? Como se observasse algo novo, viu em seus olhos, enquanto passava a mão em seu rosto, raiva e medo daquele território. Seu corpo. Conseguia ver as não vontades todas que sentia e frustrava-se por não conseguir ver o que queria. Náufrago em seu consciente, lidando com os silêncios que não podiam mais ser encobertos por outros sons, ainda ouvia ecos de pensamentos, mas sabia que a hora de lidar com o que não estava lá fora chegaria.

Ser era pairar em águas claras e meio sem sal naquelas manhãs. Náufrago em si, ele emergia. Bom dia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Raio

Daí você para, pensa, pensa, pensa...
E não não tem mais uma gotinha de nada dentro de si.
Nem de pensamento, nem de suor, nem do sentimento que era orgulhoso por ser abundante.
O tão temido dia em que conhecemos o vazio raiou. E a hora de descobrir como faz pra (pre)encher velhos e novos lugares também.
Chegou a hora de partir ou recomeçar.
Êta vida besta meu deus.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Caleidoscópio das (al)gêmeas

Às vezes a gente encontra partes nossas em outras pessoas e talvez possamos chamar isso de "alma gêmea".
Estranho pensar que algo tão impalpável tenha pedaço e ainda por cima igual, mas essa crendice pode ser muito real pra quem (acha) que a vive (ou a vive mesmo, vai saber).

Mas pare e pense. São tantas as nossas e as outras partes que não temos como escapar das ruins. E se essa sua alma gêmea for o pior fragmento de você? E se for aquele seu pedaço que é ruim, mas é tão seu, que você nem se importa, só aceita?
E por mais que tudo isso seja terrível sempre há espaço para o amor. Mas por mais que exista amor, não podemos sofrer tanto. E não me diga você que dor de amor é coisa pouca. Desmorona, desbarranca até desvive.

E ainda há aqueles que querem encontrar alma gêmea. Cuidado! 

Se pudesse ter a visão aérea disso tudo, veria fragmentado como um caleidoscópio o coração, em uma ilusão, flutuando entre as partes da alma. E talvez quebrá-la traga mais chances de um pedaço encontrar outro e ser algo bom. 
Mas sem (al)gêmeas, por favor.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um pro outro

Acontece. Quando a gente fica fora de si não tem hora nem lugar.
Parece que não tem volta e que tudo ao redor é nada.
Passou. Só será feito o que (nos) permitirmos (ou será efeito dos comprimidos?).
Quando foi que o bom demais pra ser verdade se tornou tão ruim que só pode ser mentira?
E a gente se perde no ontem que não chega. O amanhã? Nem vale a pena esperar mais.
O que resta é viver os agoras lutar pra entender que nada é nosso.

E aí um pro outro virou outro pra um. E assim segue o passo arrastado do relógio pra que tudo vire memória.
O que virá(rá)?