A cama vazia.
Roubaram as borboletas do meu estômago. Vazio há nem sei quanto tempo mais.
Pra falar a verdade, não. Não acho que vai ficar tudo bem.
Não acho que alguma coisa vai acontecer pra mudar a sorte que eu tento transformar todos os dias.
E quer saber? Não vou deixar levarem de mim o que chamam de pessimismo. Antes fosse.
Só eu sei dos meus azares, das minhas perdas, dos meus cabelos brancos e eles são tudo do pouco que eu tenho. Se você acha que é pessimismo, pegue todo o seu otimismo, todos os seus sonhos de morar em Londres e venha viver a minha vida. Por um dia.
Te ofereceria um rivotril, mas também não tenho pra dar. Infelizmente nem pra consumir.
Exagero? Pra quem nunca faltou o que pôr no prato ou se preocupou como garantir um teto, pode até ser, pois esse tipo de realidade não existe pra você. Consciência social, dizem, mas ninguém quer a ciência, o empirismo de viver na miséria. Hoje é preciso que um gráfico apareça no jornal nacional para que as pessoas vejam o que está sentado bem ao lado delas ou na frente de seus carros no farol.
Ninguém quer ter que aceitar doação ou caridade. Ninguém quer dó, mas ultimamente é só o que temos pra consumir.
Crise? Só pra quem tinha alguma coisa. Pra quem vive de quase nada uma vida inteira, esse é só mais um buraco que vamos ter que fazer no cinto. Vacas magras.