Ele. Abriu os olhos em terra desconhecida. Tudo estava tão
claro que chegou a ficar cego por frações de segundo. O que era aquele deserto
todo? Aquelas nuvens de areia pareciam desencobrir encostas não planejadas -
acontecidas.
Sem abrigo nem espelho, tentava olhar em frente para ver o
caminho, mas sabia que aquela direção era só acontecimento, não fim. Tropeçava
a cada ideia que tecia enquanto tentava despertar naquela paisagem que parecia
definida, mas que ele não conseguia por contorno.
Ele. Que mesmo tendo o conhecimento de cinco vidas e a
experiência de três não havia vivido nenhuma. Sentiu-se mareado. Talvez o
ambiente fosse convidativo para essa sensação, mas não havia motivo. Motivo.
Palavra que supostamente devia trazer sentido, mas naquele momento era só três
vogais e seis letras.
Era inevitável que em algum momento se deparasse com seu
reflexo. E quando aconteceu, aproximou-se de sua imagem para ver com olhos
céticos: o que havia ali? Como se observasse algo novo, viu em seus olhos,
enquanto passava a mão em seu rosto, raiva e medo daquele território. Seu
corpo. Conseguia ver as não vontades todas que sentia e frustrava-se por não
conseguir ver o que queria. Náufrago em seu consciente, lidando com os
silêncios que não podiam mais ser encobertos por outros sons, ainda ouvia ecos
de pensamentos, mas sabia que a hora de lidar com o que não estava lá fora chegaria.
Ser era pairar em águas claras e meio sem
sal naquelas manhãs. Náufrago em si, ele emergia. Bom
dia.